sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O coração artificial brasileiro está pronto


Mais barato que modelos estrangeiros e com tecnologia única, ele tem a missão de salvar as vidas daqueles que estão na fila do transplante cardíaco.




De poliuretano, pouco maior que uma laranja e pesando 700 g, “isso” que Andrade segura é o protótipo do primeiro coração artificial desenvolvido no Brasil. Resultado de 14 anos de pesquisas comandadas por ele, a peça está, desde abril, pronta para ser aplicada em seres humanos. “Fizemos tudo aqui dentro: estudos, peças e testes”, diz o engenheiro. O dispositivo deve ser instalado em 5 pessoas com cardiopatia grave, a partir de junho. A ideia é que dê sobrevida aos pacientes até o recebimento do transplante. “São pessoas que não respondem a medicações, que podem morrer em questão de dias”, diz. Só em São Paulo, segundo a Central de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde, há 109 pessoas na fila de espera do transplante cardíaco. Grande parte precisando de uma doação o mais rápido possível. 
Pelo mundo, os corações artificiais não são novidade. Desde 2001, existe um modelo consagrado. O coração natural é retirado na operação, e o artificial, no lugar dele, passa a ser responsável pelo bombeamento do sangue. No molde brasileiro, porém, nada é extraído. É o primeiro do mundo a funcionar junto ao órgão natural — ainda que enfraquecido. O coração de origem bombeia o sangue para o artificial, que faz o serviço pesado de distribuí-lo pelo corpo. De acordo com Andrade, as vantagens desse padrão são muitas. A primeira é que a cirurgia é mais simples. “Quando se tira o coração é preciso fazer canulação, suturar todas as saídas dele”, diz Andrade. “É muito mais complexo.” 
Outro benefício de não retirar o órgão é que ele pode continuar ditando a frequência do bombeamento de sangue, o que não requer adaptação. Além disso, o modelo traria mais segurança. Se o coração artificial parasse por algum motivo, o natural enfraquecido ficaria como responsável pelo bombeamento. Daria tempo mais que suficiente para ir ao hospital e trocar o aparelho. “Nos modelos estrangeiros, se o coração falhasse, o paciente desmaiaria na hora”, diz Andrade. 
Existe ainda uma quarta vantagem, mesmo que seja, segundo alguns médicos, pouco provável. Por estar no corpo do paciente sem ser exigido e mantendo sua frequência por meio do dispositivo artificial, cogita-se que o órgão natural possa ser recuperado depois de um bom tempo de uso. “É mais uma pretensão que possibilidade”, diz Luis Carlos Bodanese, chefe de cardiologia do Hospital São Lucas PUC-RS. “Em tese, o artificial pode diminuir a deterioração e até regredir os 
do original, mas é difícil que restaure a ponto de funcionar normalmente outra vez.” 

fonte: Revista Galileu, maio de 2012.

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